segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Minha cabeça dói. Sinto-me estranha... Esse lugar... Onde estou? Como vim parar aqui?

Ontem... Ah! É mesmo...

Como pôde tudo desmoronar de uma vez? Trabalho, amigos e... Eles sabiam de tudo, sempre souberam, riam nas minhas costas e quando tudo veio à tona me abandonaram, mostrando a quem realmente eram ‘fiéis’.

Não tinha mais nada, mais nada a perder. Decidi que não iria mais chorar... Não por eles. Coloquei meu vestido preferido, aquele que nunca usei por ser um pouco sensual, sempre tive vergonha, mas nesse momento ele estava perfeito, eu estava realmente linda nele. Não importa o que vão pensar, apenas quero me sentir linda, pelo menos esta noite, sai de casa com esse pensamento.

Fui àquela boate gótica do outro lado da cidade. Muitas pessoas estranhas. Elas me olhavam passar, podia sentir. Enquanto dançava discretamente aquela música inebriante, me deixei envolver por aquelas batidas, podia sentir que me observavam.

Sim. Isso mesmo. Olhem-me. Admirem-me. É só o que poderão fazer, pois hoje não pertencerei a ninguém.

Também sabia que ele me observava, olhava-me profundamente. Mesmo distante em meio a todas aquelas luzes no palco que o ofuscava, senti como se ele cantasse para mim, com aqueles olhos penetrantes.

Fui ao banheiro... Góticas estranhas. Como conseguiam se vestir daquele jeito? Não consigo entender. Não pude ficar lá por muito tempo. O corredor estava vazio, escuro, me deu uma sensação estranha, não queria estar ali. Três homens vieram em minha direção, as mulheres do banheiro completaram o círculo... Não consigo lembrar direito... Picadas... Mordidas?... A dor... Minhas forças se esvaindo... Conversa... Discussão...

Barulho... Eu estava no chão...

Como ousa derramar sangue em minha casa?... Aquela voz grave... E ainda toma para si meu brinquedo desta noite... Brinquedo... Meu corpo pulsava... Tudo se agitava ao meu redor... Uma sensação estranha tomava conta de mim. Fome, sede. Não dá para descrever. Aquilo crescia, sem controle. A última coisa que senti foi meu corpo queimar em fúria, desespero, desejo...

- Boa noite, Bela Adormecida. – Era a mesma voz de ontem, pareceu-me tão familiar – Finalmente acordou. Venha, sente-se aqui. Creio que seja mais confortável. Nossa conversa pode demorar um pouco.

Ele me estendeu a mão, guiando-me a uma poltrona. Eu estava em um quarto, que posso dizer, era extremamente requintado, embora não tivesse janelas. Eu estava usando uma longa camisola branca de seda. Senti vergonha, espero que não tenha sido ele a me trocar. O homem agora estava sentado na cama onde estive há poucos minutos atrás. Prestei atenção nele dessa vez, o terno preto que usava lhe caía muito bem, aliás, ele era muito bonito para a idade que deveria ter. Não que eu me interesse por homens mais velhos.

- Imagino que deva estar confusa, minha querida. Mas prometo que serei breve. – Ele demonstrava muita calma ao falar, mas a situação me dava medo. – Você deve estar se perguntado o porquê da falta de janelas ou o que faz aqui. – Apenas assenti com a cabeça – Devo dizer-lhe que a vida que você conhecia acabou esta noite. Não pretendo lhe fazer mal, a menos que seja obrigado, é claro. – Ele mantinha um leve sorriso. – Me nome é Chris. Sou o dono da boate em que esteve noite passada. – sim, agora me lembro, era ele que estava cantando – Assim como eu, você é uma Vampira.

- Vam-vampira... – eu estava tremendo – espera, se você está me seqüestrando ou algo do tipo, fale a verdade, por favor. Apenas quero saber se for morrer...

- Na verdade, você já morreu e renasceu pra uma nova vida. – ele fez uma pausa – Você deve se lembrar de quando foi atacada ontem, não é? Cinco vampiros eu presumo. Quando cheguei, eles já haviam encontrado sua morte final. Sim, é assim que chamamos quando nossos corpos transformam-se em cinzas. Não há volta. E você estava nos braços de um vampiro recebendo gotas de seu sangue. - meu corpo estava gelado, embora eu não sentisse frio, será por causa dessa situação estranha...Ele gesticulava suavemente, suas mãos tinham unhas negras e longas, abaixo da manga um relógio de prata brilhava - Assamitas, nossos irmãos assassinos, não que isso os torne odiáveis, há certa beleza no que fazem, em como fazem... Embora isso não seja bem visto em nossa sociedade. Mas ele quebrou uma das regras de minha casa, matou outros de nós e ainda a ‘abraçou’, a trouxe a nosso mundo. Então decidi deixar a sorte resolver esse impasse. Eu o dominei, enquanto você despertava em sua primeira fome irracional, e o ofereci como alimento. – toda essa tranqüilidade me perturbava - Todos sabem que os Assamitas conseguem envenenar seu sangue e se esse o tivesse feito você pereceria ali. Mas se a sorte estivesse a seu favor eu cuidaria de você.

- E o que aconteceu...? – aquilo tudo parecia loucura.

- Eu o contemplei com um fim. Ele se atreveu a tocá-la e você era minha aquela noite, eu a havia escolhido. - ele ficou quieto por um instante - Não, você me escolheu. - eu sorri, não por estar feliz, meu nervosismo estava aparente enquanto o fitava, confusa - Por que parece incrédula? Você queria mudar sua vida, jogar tudo pro alto e precisava de alguém para guiá-la, não é? – olhei-o de modo perplexo - Não, eu não leio mentes. Seu olhar desafiador me dizia tudo. Mostrava toda a sua determinação e desespero, um tempero bem apetitoso, admito. Devo confessar que você me deixou muito excitado e curioso. Agora – Chris levantou-se e veio em minha direção – não pretendo obrigá-la, mas se você aceitar ficar ao meu lado poderá dar adeus a essa vida de sofrimento. Usufruirá de todos os prazeres que sua nova vida pode oferecer. Eu lhe prometo, – ele estava abaixado apoiado em um dos joelhos, seus olhos fixos nos meus e como a mão direita estendida – apenas me dê sua mão.

Suas palavras ecoavam em minha mente, seria o fim de tudo... Não, esse seria um novo começo... Será mesmo? Isso tudo é mesmo verdade?

Apoiei minha mão sobre a dele. Presas apareceram na boca de Chris, enquanto sorria satisfeito, e, delicadamente, ele beijou minha mão. Pude notar, naquele instante enquanto aceitava de bom grado um novo começo, que seu relógio de prata, no outro punho, indicava que era exatamente zero hora.

http://youtu.be/YO3NEhIz-Ws